Por uma questão de ordem os mais espertos ou privilegiados sempre levam a melhor. A própria palavra ordem nos conduz a pensar em disciplina, hierarquia e tudo o que se possa imaginar sobre dominação.
Quando alguém, adulto ou “mais importante”, está falando crianças deve esperar sua vez de dizer suas “bobagens”.
E nessa esperar muitos inocentes perderem preciosas oportunidades de demonstrar suas novas experiências infantis em meio ao imensurável mundo civilizado dos “sabichões” adultos.
Durante os poucos momentos da presença dos meus pais em casa de volta do trabalho em que eu tentava interromper uma conversa “seria” ou leitura, também muito séria, por várias vezes ouvi deles:
- Aprenda saber a hora certa de contar ou perguntar alguma coisa; e uma questão de ordem meu filho, no momento não posso lhe dar atenção. Ou – Eu já estou em cima da hora, depois você me fala, preciso trabalhar pra dar o necessário.(sem tempo de perceber o meu desanimo).
Pra dizer a verdade, eu nunca saberia a que droga de ordem eu deveria obedecer nem a hora certa para me pronunciar. Muitas coisas acabavam esquecendo. Apenas olhavam o meu “dever de casa”.
E num desses dias em que todos se calam em frente à TV (família toda ali), numa cena de julgamento de um acusado, um advogado (de defesa ou de acusação, sei lá...) disse a bendita frase:
- Por uma questão de ordem, meritíssimo.
Não me contive e indaguei sobre a intervenção do tal cidadão.
- Meu filho, no entendimento do advogado o assunto em questão está sendo desviado e o seu cliente por isso seria prejudicado.
Agora fique quieto e não nos atrapalhe.
A cena me chamou atenção porque o juiz deu chance pro advogado falar. E logo juiz com capa preta, martelinho e tudo! Foi quando tive a brilhante idéia de introduzir minhas colocações com a “questão de ordem”, o que só serviu para gozarem de mim.
Por acaso, ouvi conversa de minha mãe com minha irmã. Entrei de súbito para lhe mostrar um lindo desenho feito por mim. Nem perceberam minha chegada de tão concentradas em cima de tantos livros era uma pesquisa escolar.
- Por uma questão de ordem, mãe...
Ela pegou o papel da minha mão, deu uma olhadinha...
- Está lindo, foi você quem fez?
Já está na hora de você dormir, fofura da mamãe. Vá para sua cama. E por questão de ordem, dei-lhe um beijo de boa noite e fui dormir.
Dorinha Prego
Macapá - AP.
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