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A carência de informações ambientais sobre a região torna-a extremamente ameaçada pelo impacto da exploração de seus recursos. Desde o seu descobrimento por Pinzón, passam pelo estuário todo o tipo de pirataria. Madeiras nobres, minérios, biotecnologia, peixes ornamentais amazônicos que movimentam uma indústria global de 30 bilhões de dólares por ano. Junto com os milhões de toneladas de sedimento descarregados diariamente o estuário deposita muita matéria orgânica, um ótimo alimento para organismos de fundo. O sedimento forra o fundo de uma extensa área desde as costas do Amapá até as Guianas, onde a pesca de arrasto explora esses recursos mantidos pela descarga do rio. Peixes e camarões são diariamente garimpados pela indústria pesqueira que deixa um rastro de fauna acompanhante de cerca de 20 mil toneladas por ano. Os mais capturados para o comércio exportador são bagres enormes chamados "Piramutaba" e o camarão branco. Essa pesca é predatória e não traz benefícios diretos para a comunidade local. Nada fica para apoiar os estudos e o desenvolvimento sócio-econômico da região.

Além disso a região também é rica em gás e petróleo. E a falta de estudos sistemáticos e contínuos sobre o ambiente físico, químico, geológico e biológico a torna ainda mais vulnerável aos acidentes em decorrência da exploração desses recursos minerais. A última moda agora é a "hidropirataria". Em 7 de julho de 2004 o jornal paranaense Gazeta do Povo publicou a matéria "Navios roubam água do Rio Amazonas denunciando o problema e a falta de fiscalização na área (o que não é nenhuma novidade). São navios petroleiros que após descarregar o óleo cru do Oriente Médio aproveitam para levar a água do rio durante o regresso. Cada navio pode abastecer seus tanques com até 250 milhões de litros de água. De graça e sem pagar imposto. Os clientes são as empresas engarrafadoras tanto da Europa quanto dos países do Oriente Médio onde água doce só por dessalinização da água do Golfo Pérsico. Na Europa elas deixam de pagar impostos pela utilização e tratamento da água dos rios europeus. Pense nisso quando você estiver saboreando uma Perrier com gás. Na Arábia Saudita (p.ex.) a dessalinização custa US$1,5 por metro cúbico. Para tratar a água do Amazonas, gastam a metade. Ou seja é um grande negócio pra todos eles. E o povo às margens do rio continuam a ver navios.

Frederico Brandini
Oceanógrafo, é Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná. Foi pesquisador do Programa Antártico Brasileiro e diretor do Centro de Estudos do Mar da UFPR em Pontal do Paraná.

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